- Nº 1571 (2004/01/8)
Comunicações

Mais sobre a Cimeira Mundial<br>para a Sociedade da Informação

Argumentos

«Pronto.» Não. Agora já não está aí tanto o hábito dizer «pronto», não é? Agora será mais a altura de dizer «vá». Então «vá», vamos lá outra vez ao tema da «Cimeira Mundial para a Sociedade da Informação» (WSIS ).
Mais, do descarregar de mau feitio? Vejamos.
Há pouco ainda, referi-me ao facto. Que esta iniciativa da Cimeira teve quase nenhum eco na Comunicação Social. E tal, ao contrário do ressoar que recordo de outras iniciativas de semelhante cariz. Isto é, de outras Cimeiras, sobre outras matérias, lançadas para promoverem declarações em nome dos povos da Terra - a mim, esta paternidade a soar o seu quê de pomposo, talvez por me dar a sensação de a afirmação de representação dos povos da Terra ser um pouco, como direi, afastada da realidade… bom, mas é o que se pode arranjar (?) -, declarações, dizia, sobre questões de grande importância e a requererem acordos «globais» urgentes e eficazes como, portanto, deveria ser o caso da «Cimeira Mundial para a Sociedade da Informação».
E, nessa minha primeira incursão escrita sobre este tema do quase nenhum eco na Comunicação Social, o que vale por nenhum eco, colocava a questão de ser meu o problema - por exemplo, o recente Terramoto do Irão do passado 26 de Dezembro só me chegou ao ouvido no dia seguinte, tendo eu ido depois aos sites apropriados informar-me (e neste caso não terá sido tanto por falta de informação nos meios de Comunicação Social, mas mais por meu alheamento natalício!) - ou / e da responsabilidade da Comunicação Social do meu país.
Então, para comprovar esta minha percepção de alheamento da Comunicação Social relativamente à «Cimeira Mundial para a Sociedade da Informação», uns quatro dias mais tarde, tendo eu ido até Bruxelas por razões de serviço, resolvi-me a inquirir sobre esta questão o responsável de imprensa da organização europeia aonde me desloquei. Este tem por missão passar em revista os media exactamente sobre as notícias da área das comunicações e da sociedade da informação. E confirmou a minha percepção sobre a atenção dada a esta matéria. Quase nada, e as notícias restantes sempre em posição de pouco destaque. E continuei a escarafunchar. Um colega de um país do centro da Europa em vias de entrar para a UE: «Lá também pouco apareceu; os jornais? Quase só sobre o processo de integração do meu país na EU.» Só quando coloquei a questão a um suíço - a Cimeira realizou-se em Genebra -, sim, neste caso os media tinham dado relevo à sua realização. Pudera, uma realização com o apoio do próprio governo, realizada na própria Suíça.
Portanto, já não era apenas uma impressão subjectiva da minha parte. Confirmava-se o que eu pensara. Mais, outra pessoa do mesmo círculo - já não me lembro de onde era -, chegando-se à conversa, percebendo que era sobre a Cimeira, afirmou: Disseram-me que a Cimeira tinha sido um falhanço, um flop. Um flop, porquê? - perguntei. Não me soube explicar. Ditos destes, hoje, vão esvoaçando, vão ficando pela superfície e passa-se adiante com uma grande frescata.
Enquanto a reunião começava e não começava, aproveitando aqueles minutos, fui inquirindo o responsável de imprensa atrás referido sobre as razões desta abstenção informativa sobre a Cimeira. E a primeira reacção deste profissional, quase automática, foi a de que não houve drama, portanto a Comunicação Social pouco ou nada lhe pegou. E eu a matutar: então ter sido um flop não era já um drama? Ou não terá sido um drama porque já se sabia que ia ser um flop, o que quer que signifique este termo.
Na realidade, flop ou não flop, ele pareceu concordar com as tentativas de explicação por mim avançadas. A primeira, e mais importante, é o facto de a Cimeira ter sido desdobrada em duas fases, uma a acontecer em Genebra, em 2003, e a outra em Tunis, em 2005. Terão sido as razões diplomáticas, poderá parecer bizarro, mas o certo é esta fase da Cimeira - sendo apenas uma primeira fase - ter sido efectuada a pensar na segunda fase. Outra razão terá sido a obtenção de números para a exclusão digital global muito menos dramáticos do que se esperava e de se ter talvez concluído sobre a necessidade de conhecer melhor a situação. Uma outra explicação, ainda, terá a ver com a imaturidade do debate e dos acordos sobre a questão do «governo mundial» da Internet, e de quem é quem nesta matéria - seria esta questão um jogo de poder ainda por resolver?
Portanto, uma iniciativa que acabou por estar a acontecer antes do seu tempo próprio… pelo menos para produzir uma Declaração em nome de «Nós, os Povos da Terra»!

Francisco Silva